Por favor, não leiam...

Sim, por favor, não leiam este post. Trata-se de um mero desabafo e pode soar piegas (coisa que eu abomino, mas do qual às vezes é difícil escapar). Sempre tive o hábito de desabafar no papel, mas como escrever faz minha mão doer, optei por digitar. Assim, queiram cometer a gentileza de não ler este texto (para alguns, a gentileza é tão difícil de realizar que, quando ocorre de sair algo gentil, é reles cometimento - meio sem querer, sabe?).

Na minha adolescência, havia uma música que tinha o seguinte trecho: “há muito tempo eu ouvi dizer que o homem vinha para nos mostrar que todo mundo é bom e que ninguém é tão ruim. O tempo voa e agora eu sei que só quiseram me enganar, tem gente boa que me fez sofrer, tem gente boa que me faz chorar”. E não é que o danado do trecho tem razão!!!

É óbvio que eu já dava ao trecho certo crédito, mas o que me espanta é a criatividade do ser humano em magoar os demais seres. O pior não é nem a raiva, a frustração, e sim a decepção. A raiva e a frustração nos impelem a revidar, a fazer algo, enfim, põem-nos em movimento, bem ou mal, sentimo-nos vivos. A decepção não. Ela nos deixa na mais completa inércia, mata algo em nós e deixa um espaço vazio. Muitas das vezes decreta a morte em vida de pessoas que, outrora, nos eram caras, a quem defendíamos com unhas dentes, ossos e sangue.

Quando nos pomos a querer resgatar o sentimento que preenchia o espaço onde agora há um vácuo, temos a impressão de que esse vácuo nos suga e, por mais incrível que possa parecer, ouvimos “o que havia aqui era ilusório”. Não conseguimos sentir raiva, desprezo, não agimos, não reagimos, simplesmente, não sentimos. O “não sentir” é que nos dá a tristeza, melhor, o deixar de sentir é que nos remete à melancolia profunda. A pessoa pode estar ali, sentindo, falando, respirando, mas para nós há apenas uma lápide: “Aqui jaz”. O curioso é notar como pessoas que efetivamente morreram permanecem mais vivas em nós que muitas que por aí andam.

Há também um ditado popular que diz que problema nunca vem só. Outro ponto para a sabedoria-pessimista-popular. Unindo o trecho da musiquinha acima ao dito popular, num espaço de uma semana três criativos representantes do “homo sapiens” conseguiram a proeza de me botar abaixo do abaixo. Um já teve seu “aqui jaz” decretado, os outros estão em franco processo de “jazimento”.

O que já teve sua certidão de óbito lavrada sepultou mais de 15 anos de amizade por conta de algo que eu abomino: falsidade. Simplesmente acabou. Foi uma pessoa que me trocou por algo que julgou ser mais vantajoso que a minha amizade. Espero que realmente seja.

É fácil magoar os outros. Você pode destruir algo de muito bom, grandioso, bonito, de uma vez ou aos poucos. Quando você mata de uma vez, a pessoa sofre de uma vez (sofre muito, mas tem a certeza de sua situação). Quando você mata aos poucos, você desnorteia a pessoa, causa uma ferida e a alimenta a cada mágoa ali depositada. Chega a um ponto em que a ferida está tão grande (ou porque você quis assim ou porque você simplesmente perdeu o controle, não que isso lhe importe ou interesse), que a pessoa já não mais sabe o que fazer, em que acreditar, não sabe, não sabe... É um método tão cruel que se tira absolutamente tudo da pessoa, do sorriso à crença em si mesma, chegando ao ponto de fazer com que a pessoa sinta uma irremediável saudade do que ela costumava ser. Se a pessoa ainda lhe dá de presente um passo em falso, você vem com o tiro de misericórdia (não que haja alguma misericórdia nisso tudo): põe a culpa nela!!! Isso, você põe a culpa nela!!!

Outro método muito eficaz de magoar o outro é ser adepto da seita “pode até ser o melhor, mas nunca demonstre que é o suficiente”. Funciona assim, você sabe que a pessoa é boa naquilo que ela faz, naquilo que se propõe a fazer e/ou naquilo que ela é, mas, além de não admitir nada disso, critica absolutamente tudo!!! Nada nunca está bom, nada nunca ficará bom. Se a pessoa já estiver enfrentando uma situação como a descrita no parágrafo anterior, essa nova estratégia cairá como uma luva!!! O significado de “auto-estima” estará permanentemente banido do dicionário!!!

Isso nos leva a três outros trechos da música:
1) “Agora eu sei, posso te contar, não acredite se ouvir também que alguém te ama e sem você não consegue viver”. É a essa conclusão a que se chega quando se vive situações parecidas com as descritas acima.

2) “Quem vive mente mesmo sem querer, e fere o outro não pelo prazer, mas pela evidente razão: sobreviver”. Neste trecho há dois erros grosseiros, existe sim um prazer mórbido em ferir o outro, creio ser o método Pavlov para relacionamentos “vamos ver até que ponto a pessoa agüenta”. No dia em que tudo isso se volta contra você, seja lá de que forma for (isso normalmente ocorre quando a pessoa já não se reconhece mais, já não tem auto-estima – ou apresenta mero resquício), ponha a culpa na pessoa e vá espalhando isso aos poucos ou então insinue algo do gênero.

3) “Quem vê seu rosto só pensa no bem que você pode fazer a quem tiver a chance de te possuir. Mal sabe ele como é triste ter amor demais sem nada a receber, que possa compensar o que isto traz de dor”. Lembrando sempre, é claro, que “não basta à mulher de César ser honesta, ela tem de parecer honesta”. Atualmente, bastando parecer honesta já é mais que o suficiente. Assim, faça isso, pareça apenas.

É por essas e por outras (as mágoas anteriormente sorvidas) que meu sonho de consumo na adolescência era ser uma pessoa arrogante e inteligentemente má quando me tornasse adulta. Mas Deus, em Sua infinita sabedoria, e com certa dose de sadismo, resolveu me dar uma Madre Tereza pra lá de forte!

(Para quem não sabe, eu sou três: Madre Tereza, Fraulein e Andrea. Andrea é a que se magoa; Madre Tereza é a que tenta arduamente não sepultar a crença de que ainda devem existir pessoas boas no mundo, só que é difícil achá-las; Fraulein é aquela que diz “vai, sua otária, achar que todo mundo é bonzinho, que as pessoas lhe dão a importância que elas dizem dar.”).

Pode ser um pouco contraditório ter uma Fraulein tão rude e uma Madre Tereza tão doce. O fato é que elas podem ter lá suas controvérsias, mas ambas é que me deixaram de pé, que não permitiram que minha auto-estima fosse pro inferno (sim, ninguém que lhe magoe quer que a sua auto-estima vá para o céu, né?). Sim, já tive períodos de sentir falta de mim mesma, de me manter mais curvada que de pé, mas ainda estou aqui. O que me remete a um trecho de outra música: “Mas eu sei que um dia a gente aprende: se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança”. Um dia eu vou aprender que eu só posso confiar em mim mesma, mas enquanto ainda existir alguém em quem eu confie, vou deixando para aprender essa triste lição outra hora (sim, é muito triste ver e ter a certeza de que você só pode contar consigo mesmo).

Mesmo triste, se analisarmos bem, até os religiosíssimos já descobriram isso. Como lhes soem ser, inseriram Deus no rol dos confiáveis (ainda bem tem alguém além da gente para que se possa confiar). Tem um hino cristão que diz: “E ainda se vier noite traiçoeira,se a cruz pesada for, Cristo estará contigo. E o mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo”. É, nem mesmo os cristãos andam acreditando no amor do próximo (conseguiu ler isso, Madre Tereza???).

Inté!

Ps.: O mundo não “pode até”, ele faz você chorar. (Fraulein manda lembranças).

Comentários

  1. Não conheço a Fraunlein, a Madre Tereza me parece um alguém um tanto quanto simpático. Mas a Andrea eu conheço um pouco, e sei que ela é uma pessoa simpática, sie disso tanto pelas coisas que ela escreve, mas principalmente pelos e-mails carinhosos que ela já me mandou.
    Eu lembro de até ter ficado surpreso com os e-mails que você mandou Andrea, eu ficava pensando "nossa, quem é essa tal Andrea?" E agora virei um fã seu!! :p
    Esse lance de amizade é meio pancada mesmo... De repente você perder a confiança em alguém deve ser muito chocante, ainda maisalguém que você já conhece tão bem...

    Mas como diria o ditado, depois da tempestade vem a bonança (digo isso pq elas se repetem num looping eterno, representando as fases de nossas vidas).

    Melhoras, e bjos!!

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  2. Minha amiga,

    Muito eloquentes e dignas de total crédito as suas palavras, mas nesse mundinho. Não acredito em tão forte pessimismo, nem em eventual muito elevado otimismo, isto é, não acho que qualquer extremidade seja o porto seguro.

    O mundo inteiro é projeção da lente... troque-a e verá outro mundo. Mas como fazer isso se as lentes têm a cor dos nossos valores e princípios? É simples, entenda a felicidade:

    As extremidades são equidistantes do equilíbrio, nos levam a instabilidades, a uma troca de lentes tão "masturbativa", que concluímos é isso: nesse mundo não se pode ser feliz. Mas eu digo: só se for "feliz" pros outros verem: a felicidade é um sentimento tão humilde e modesto, que basta sentí-lo, só você o sente e enxerga. A felicidade não comete excessos, ela é singela e caladinha, quetinha, não se proclama. As extremidades são meras cascas de açúcar, logo são absorvidas pelo organismo, porque organismo angustiado, impõe necessidades ilimitadas. A calma da felicidade basta, não restando mais procuras. Se basta, é porque ocupou o espaço vago, aquele maldito vácuo.

    Além do mais, o referencial "perfeição" existe. O que é a perfeição? No meu ver, é o estado de espírito em que se conquista a evolução, a correção, o aprimoramento, a paz. Isso existe: é a tão simples felicidade (lembre-se do que é felicidade: ela é caladinha, quetinha e pacífica).

    Um abraço, minha amiga querida.

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  3. Cool blog, interesting information... Keep it UP » »

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