Nostalgia ou melancolia...

Sempre tive desses momentos, aqueles em que tudo está andando e eu resolvo parar no meio do caminho pra ficar ruminando, relembrando e revivendo o passado. Às vezes volto a lugares e tempos bem distantes, uns poucos felizes da minha infância; noutras retorno a passados não muito remotos, em situações muito sofridas e difíceis; e há aqueles em que volto tanto lá atrás quanto um atrás mais pertinho.

Apesar de saber que a vida se vive olhando pra frente, sempre volto meu olhar para o passado. Não sei explicar por que, mas sei que sempre volto. E hoje voltei, voltei para outro janeiro, um janeiro de 26 anos atrás. Acabei me dando conta de que as coisas passam sem passar. Pessoas que deveriam ter ido simplesmente ficam e você não consegue se desvencilhar. Aí aprende a conviver com uma ausência-presença de alguém que já se foi sem nunca efetivamente ter ido.

Lembrei daquele janeiro e dos dias felizes que antecederam àquele janeiro. Do último Natal lá em casa, da última vez em que a família se reuniu sem aquela sensação de falta. Da última ida à casa da vovó, cantando músicas do Roupa Nova. Do último planejamento para a viagem que iria se iniciar. Da viagem em si. Do casamento da Maria Hilda. Da fazenda do Tio Osíris. De sair correndo em desabalada carreira depois de descobrirmos que a vaca "Banana" de banana não tinha nada. De um choro inexplicável e inconsolável que me fez tremer o coração. De ficar ouvindo a Turma do Balão Mágico na casa da Tia Ivone. Do quanto "Se enamora" embalava os nossos sonhos de encontrarmos nossos príncipes encantados. Da batida, da perda, de se ver obrigada a (mais uma vez) renascer...

E quantas vezes eu renasci a partir daí... perdi a conta, não sei mais contabilizar as inúmeras vezes em que tive de me reinventar para poder continuar. Enfrentar as imensas decepções da vida quando tinha certeza de que tudo estava caminhando. De passar por cima de tanta coisa e de, ao mesmo tempo, odiar imensamente e ser eternamente agradecida por ser forte.

Há dias em que quero colo, mas ninguém ainda achou que eu o mereça (talvez por terem a ilusão de que sou forte, de que aguento o tranco ou de que a situação não é tão dolorosa assim). Acabei encontrando meu colo nesses retornos, um colo um tanto quanto nostálgico e melancólico, mas um colo que me foi permitido.

A boa nova, segundo um astrólogo, é: "foi muito difícil chegar até aqui, né? As coisas para você não foram nada fáceis. Mas a boa notícia é que acabou." Depois de tanto tempo passando por tantas rupturas, vou me dar o direito de duvidar, pois ainda não sei bem o que significa a palavra "fácil".

Qualquer coisa, meu colo está lá onde ele sempre esteve, num longínquo passado, que começou a desmoronar e a ser reconstruído há 26 anos.

"A vida tem sons que pra gente ouvir precisa aprender a começar de novo. É como tocar um mesmo violão e nele compor uma nova canção"

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