Dia das Mães.. ou só "Mães"
Dia das Mães.
Apesar de muitos condenarem essas datas festivas, alegando
servirem apenas para estimular o consumo, o Dia das Mães e o Dia dos Pais tem
especial apelo emotivo, pois evocam a presença de duas figuras fundamentais.
Não adianta querer dizer que algum deles é dispensável. A
ausência ou a presença deles é crucial na vida de qualquer ser humano.
Mas hoje vou falar de apenas uma ausência: a ausência da
mãe. Vou escrever não pela data, mas por uma foto que recebi em meu e-mail que
me levou às lágrimas. A foto de uma criança que perdeu a mãe para a guerra. A
falta da mãe foi tão marcante, tão dolorosa na vida dessa menina que, mesmo com
toda sua singeleza, pegou um giz, foi ao pátio do orfanato e desenhou sua mãe.
Depois de pronto, aninhou-se no colo desse desenho e ali ficou.
Curioso que a falta dessa mãe atingiu não só à menina, mas a
mim também. Só de escrever sobre isso, volto a chorar.
Todos têm receitas maravilhosas sobre como ser uma boa mãe, não
só uma boa mãe, mas a melhor mãe do mundo. Todas essas receitas mirabolantes se
resumem numa palavrinha só: amor.
Amar alguém não é difícil, difícil mesmo é arcar com esse
amor. Amar seu filho acarretará a uma série de renúncias, exigirá maturidade
imediata.
Imagine uma mulher cujo sonho era ter uma carreira
promissora, meteórica. Imagine essa mesma mulher sendo surpreendida pela maternidade.
Excetuando-se as covardes que optam pelo aborto “por não ser aquele o momento
propício para ser mãe”, imaginemos essa mulher repensando todo seu projeto de
vida e optando por abraçar essa dádiva divina.
Sua carreira continuará sendo promissora, mas a marcha para
essa ascensão será um pouco mais lenta. E isso não é algo ruim, pois cada passo
dado representará uma sedimentação. O custo desse passo será tamanho que nada a
fará dar ré. Quando alcançar o auge de sua carreira, será muito, mas muito
difícil tirá-la de lá, porque ela escolheu chegar ali mais lentamente, mais
firmemente, porque tinha de ser profissional e mãe!
Durante sua jornada, ela abriu mão de trabalhar loucamente,
de estudar incessantemente os temas relacionados a sua profissão para aprender
de novo a ser, para se reconstruir, para reprojetar sua vida. Ela não está mais
só, seu filho, sua maternidade, seu amor pelo filho a fez crescer muito mais do
que cresceria se estivesse na roda viva da vida.
Ela não abriu mão só de chegar mais rapidamente ao cume,
abriu mão de noites de sono, de comida quente e na hora certa, de roupa
permanentemente limpa, de andar sempre alinhada, de assistir silenciosamente ao
seu programa favorito, de ir ao cinema ou ao teatro, de se encontrar com
amigos.
Não deixou de fazer essas coisas, fazia-as sim, mas numa
constância infinitamente menor. Então cada encontro com seus amigos era uma
festa, cada comida era saboreadíssima, cada cochilo era reparador. Tudo era
sempre muito intenso e essa intensidade nasceu não da falta de fazer essas coisas,
mas junto com o seu filho, pois ele lhe ensinou que é difícil dar o primeiro
passo, mas ele tem de ser dado e, ainda que sobrevenha uma queda, o
reerguimento é necessário.
Amar também é saber dizer não, é ensinar o caminho correto,
é mostrar para seu filho que fazer o bem vale a pena. Veja, eu disse mostrar,
porque nada ensina mais que a prática. Então, graças a esse filho, essa mulher
(re)descobriu o quanto é fantástico fazer as pessoas em volta sorrirem, (re)descobriu
que todos somos humanos, todos merecemos ser olhado nos olhos e sermos ouvidos.
Olhando essa foto, fico imaginando o tamanho da dor dessa
mãe que, por conta de uma guerra estúpida (todas as guerras são estúpidas),
subitamente deixou de aprender, deixou de (re)descobrir. Aí vem a sua filha e
mostra que ela pode ter deixado tudo, mas não deixou de ser mãe. Sim, ela
morreu, seu corpo físico se foi, mas ela continua ali, sendo MÃE, mãe daquela
menina que a carregará pra sempre no
coração, não importa o que aconteça, que irá se mirar no exemplo dessa mulher,
que dará vida a cada palavra, a cada ensinamento... e tudo isso só foi possível
não por conta de uma maternidade, mas porque essa mulher conseguiu mostrar para
essa criança que ser uma boa mãe é amar.
Assim dizia o e-mail em que recebi a foto:
Nem sei o que dizer para encaminhar esta imagem.
Emocionante...
Só mesmo usando as palavras da Clarice Lispector:
'Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.'”
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