Antes de ler...

Antes de ir às livrarias ou aos sebos (bem, isso se você, caro leitor, for uma traça tal qual a que vos fala) ou de dizer que os paulos coelhos da vida são bons escritores, é bom que sigam o conselho (calma, não é conselho meu, mas do Shopenhauer). Aí vai (matéria divulgada pela revista Istoé):

Profeta da banalização
Schopenhauer ataca a literatice, numa antecipação dos dias de hoje

Eliane Lobato

Parece premonição. Quando o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) escreveu os três textos que compõem o livro Sobre o ofício do escritor (Martins Fontes, 222 págs., R$ 21,50) – originalmente para a obra de pequenos ensaios intitulada Parerga e paralipomena, lançada em 1851 –, não poderia supor que seus fundamentos seriam tão verdadeiros num futuro distante. O livro é um prognóstico de tragédia na área das letras. Deixemos de lado a parte em que fala dos problemas da língua alemã, pela especificidade que não é de interesse geral, para centrar nas críticas aos escritores, estilos e vícios. Parece que ele adivinhava que o futuro da literatura seria a banalização – basta ver entre os milhares de títulos lançados diariamente quais realmente merecem ser lidos. Feitas as contas, o resultado é pequeno.

Mas a responsabilidade pela proliferação de obras ruins é repartida com o leitor: “Uma grande quantidade de escritores ruins vive somente da tolice do público”, diz. Schopenhauer chama de literatice – termo certamente criado por ele e que significa literatura chata – “cerca de nove décimos de todos os livros”. E diz o motivo: os autores são “cabeças ocas que querem socorrer seus bolsos vazios”. Ele condena quem escreve para alcançar a fama ou, pior, para ganhar dinheiro. Só se deveria escrever por amor ao assunto, ensina. Não viveu o suficiente para conhecer o marketing, mas pediu que a literatura fosse avaliada apenas pelo pensamento original, e não pela capa ou presepada em volta. Bate pesado nas interpretações e compilações. “Só quem tira diretamente da própria cabeça a matéria do que escreve é digno de ser lido”, afirma. Considera que “os que pensam” são exceções e “no mundo inteiro, a regra é a canalha”. Ou seja, os que se apropriam de reflexões alheias e reproduzem idéias como se faz com “moldes de gesso”.

Schopenhauer afirma que não existe nada mais fácil do que escrever difícil, e que este é um recurso que visa ao logro. A exibição de erudição pomposa, estilo prolixo e palavras que ninguém entende é, na verdade, uma forma de o autor reconhecer que não merece ser entendido e que seu pensamento não é significativo. Dizem que a filosofia está na moda no Brasil atualmente e que os filósofos estão sendo procurados em livrarias. Ok, essa onda pode nos redimir da saga que ele critica em seu livro. “Há gente que lê mais sobre o que foi escrito a respeito de Goethe do que por Goethe e estuda com mais diligência a lenda de Fausto do que o próprio Fausto.” É aconselhável ler Schopenhauer por ele próprio.

Ah, falando em má literatura (ou literatice, como diria Shopenhauer), a última defesa que ouvi sobre paulo coelho foi a e que ele seria o responsável por fazer milhões de pessoas se interessarem por livros. Acho isso uma tremenda sacanagem e uma absurda inverdade, pois as Biancas, Sabrinas e Júlias conseguiram esse feito anos antes.

Até a próxima!!!

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