Opala 76

O ano de 1976 foi, definitivamente, o segundo melhor ano do século passado, perdendo apenas para 1989 e 1999 (empatadíssimos em primeiro lugar). Além de ser o ano do dragão de fogo (evento raríssimo no calendário chinês), trouxe ao mundo esta que vos escreve e um carro (sim, naquele ano o Opaleira ainda era um carro) que, com o passar do tempo, entrou para o folclore de certas pessoas e de um certo instituto.

Reza a lenda que uma vez tentaram furtar o Opaleira, mas os ladrões não lograram êxito em sua empreitada em virtude de um moderníssimo sistema de alarme anti-furto: o câmbio saía!!! Não, não desistam de ler este post, achando ser história de pescador, o câmbio realmente saía!!! O Opaleira era daqueles veículos cuja marcha ficava localizada ao lado do volante. Mas sabe-se lá por que motivos, o parafuso que a prendia era algo inexistente!!! Assim, o então possuidor levava consigo um pedaço de seu tão amado carro.

Outra característica interessante era a ausência de cor. Na Física, dizem ser o branco a presença de todas as cores e o preto, a ausência. Pois bem, o carro possuía dois tons de branco com um tertium genus beirando o creme, de modo que a simples pergunta "qual a cor do Opaleira" era de deixar louca a própria Esfinge (se isso tivesse sido perguntado a ela, ia rolar uma auto-esfingofagia). Ah, isso tudo sem que ainda fosse moda dar mil nomes para as nuances das cores. Definitivamente, era um auto fashion!

A lataria... pulemos essa parte...

O motor era um investidor frustrado. Desejava sobremaneira ser sócio da Bosch. Por não ter conseguido realizar seu sonho de infância, obrigava seu possuidor a verter riachos de dinheiro na troca semanal de velas... todas da marca Bosch.

Ah, um pequeno comentário sobre a lataria. Barcos modernos possuem um belíssimo piso feito de uma material altamente resistente e transparente, com o fulcro de dar aos passageiros o regalo de visualizarem o fundo do mar. O passageiro do Opalera também era presenteado com algo semelhante, pois conseguia visualizar o asfalto por um furinho que existia no assoalho.

O banco... ah, o banco!!! O banco era o chantili do bolo!!! Era um banco inteiro (inteiro = não havia a divisão entre banco do motorista e do passageiro, não é "inteiro" de "inteiro", sacaram?) com uma peculiaridade fantástica: o encosto do lado do motorista era escorado pelo estepe do carro!!! Ou seja, se furasse um pneu (o que, Graças a Deus e a todos os santos, beatos e aspirantes, nunca aconteceu enquanto eu usufruía do auto) o motorista teria de dirigir sem poder se recostar!!! Mágico, não???

Bem, se o banco era o chantili, qual seria a cereja??? A cereja era o porta-mala!!! O porta mala era moderníssimo, possuía um dispositivo que, à época, media 1,30m, pesava cerca de 26kg, falava, andava, lia, escrevia e conseguia passar pelo encosto do banco traseiro e abria o porta-mala por dentro!!! A chave era absolutamente desnecessária.

Outro dispositivo modernérrimo e chiquetérrimo eram as orelhinhas do Opaleira!!! Sim, o carro podia não ter uma audição aguçada, mas possuía orelhas de fazer inveja a Dumbo!!! (Não, não pense que por conta disso o auto voava, nem mesmo conotativamente. Por uma questão de lógica, e olha que eu nem sou tão lógica assim, chega-se facilmente à conclusão de que um carro com um motor de personalidade boschiana não é dotado de asas). Seguinte, em vez daqueles retrovisores redondinhos, característicos dos Opalas normais, o Opaleira tinha dois retrovisores de caminhonete!!! (eu sempre achei que eram de caminhão Scania 18 mil rodas, mas o possuidor jurava que eram de caminhonete... vamos agraciá-lo com o benefício da dúvida).

Ah, e devido aos meus dons mediúnicos, certa vez, conversando com seu possuidor, antes mesmo de saber que ele detinha tão peculiar auto, pego-me comentando do Opala do meu tio. Teci comentários fantásticos sobre: "já reparou nos faróis??? parecem cuia de índio!!!", "pior ainda se o carro for preto, fica parecendo carro de funerária!!!", "já viu o tanto que ele é quadrado??? parece uma banheira ambulante!!! só perde para o Landau e para o Galax!!!"... e ia fazendo outros comentários (pertinentes, diga-se), até que o possuidor revela "ah, eu tenho um Opala!!!"... E antes que eu pudesse ouvir minha cara se quebrando ao chão, tive presença de de espírito de falar "é, mas tem um motorzão, né???". Bem, eu ainda não conhecia a personalidade do motor do Opaleira.

E é só!!!

Ps.: convencidos de que não posso ser chamada de "maria gasolina"???

Comentários

  1. oi, dona, td bem contigo? posso comentar por aqui? (espero que sim)

    é que vi vc falando do Opala e ainda hj vi uma revista - periódica! -dedicada SÓ ao Opala (Clube do Opala, ou algo parecido...) Enfim, até sei que hj em dia tem publicações pra todos os gostos, mas achei meio exagerado... Não sei se essa especificamente tinha espaço pra velharias (com todo o respeito) como a que vc descreveu; mas, manda o texto pra lá, de repente... rsrs

    bjo mulher, tudibom!

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  2. "Fui caminhando e vejo um rapaz com a prova do TSE na mão. Na hora aquilo me soou como "o risco desse aí te assaltar é zero, ele parece que também está subindo pro eixo, e você terá companhia até a parada - o que reduz ainda mais o risco de assalto". Ah, não me fiz de rogada e perguntei "Oi, como você foi na prova?". Dito e feito!!! Ele estava subindo o eixo, tive companhia não só até a parada do Mc Donalds, mas até a parada da casa do meu tio, pois pegamos o mesmo ônibus."

    Essa é a prova mais irrefutável que você não é Maria Gasolina!!!!!!!!!
    Beijo!

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  3. Anônimo "primus" - valeu a dica

    Anônimo "secundus" - o lance da maria gasolina foi mais mote pra poder postar sobre essa relíquia-cômica. Ia ficar meio estranho eu não ligar o Opaleira com nada... e o "auto" merece.

    Beijo!!!

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