Estranha no ninho...

Vamos viajar ao meu passado??? (post longo, muito longo)

Em vários momentos da minha vida, senti-me como se tivesse nascido no mundo errado. Enquanto, na infância, as garotas queriam brincar de boneca, de casinha, eu queria brincar de correr, de pique bandeira, de pular o muro da casa da Jô pra roubar frutas (Carla, se você ler isso, lembre-se que nunca disse que vocês não compartilhavam dessas gostosuras, mas a aventura de pular o muro quando vocês iam para a chácara era indescritível). Na adolescência, não conseguia achar a menor graça nos belos garotos que tanto faziam a alegria das meninas. No colégio sempre fui a pária (sabe aquela garota que não tem turma??? E, pior, não se interessava em ingressar em nenhuma delas por achá-las inúteis e fúteis???). Sempre fui considerada a chata, o estorvo, a "ai, credo, lá vem a Andrea".

Mas (como já disse, toda história tem um "mas") no segundo grau encontrei algumas meninas que queriam ver algo além do cara gato, além do senso comum. De cara, ficamos amigas (amizade que dura até hoje) e éramos as odiadas da turma (lembra: frentão x fundão??? Éramos do fundão). Essa raiva toda se devia ao fato de sempre nos darmos bem nas provas e de sermos as únicas contestadoras da turma (eu era o bode expiatório, pois também era muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito atrevida. Não levava desaforo pra casa de ninguém: professor, colega de turma, bedel, etc. Por duas vezes, cheguei às vias de fato - oi, Djalma e Antair, sem ressentimentos, ok?) . A máxima "ame-as ou deixe-as" aplicava-se a nós com uma pequena diferença: "ame-as ou as odeie". Diversos professores realmente gostavam da gente, pois notaram que éramos os seres mais pensantes de suas turmas. Todos no colégio, do bedel ao diretor, sabiam quem eram Guaíra, Andrea, Jaqueline e Dayane (desnecessário dizer que, mesmo não precisando de nota para passar, nossos nomes figuravam em todos os conselhos de classe).

Outro fato: era muito feia!!! (mas feia mesmo!!!). O preconceito contra pessoas feias é idêntico a qualquer outro. As pessoas te evitam de uma maneira desconcertante, parece que a feiúra é contagiosa. (Certa vez, quando fui a um tarólogo e disse a ele que eu era muito feia na infância e na adolescência, ouvi uma sonora gargalhada. Ele riu tanto que fiquei sem graça. Pensou que eu estivesse mentindo!!! Acho que devo ter melhorado no quesito aparência.)

Esses e vários outros fatores nada agradáveis, em especial os tais "problemas familiares", tornaram-me a Andrea que sou hoje. E, sabe-se lá porque, existem pessoas que realmente gostam de mim, consideram-me de um modo que nem eu alcanço. Deve ser a tal da superestimação.

Isso é um pouco confuso pra minha cabeça, pois a mudança foi quase um passe de mágica, não houve um processo de adaptação. De uma hora para a outra, virei uma pessoa tão interessante ao ponto de outras quererem ser minhas amigas, fazerem parte da minha vida. Não estava (estou) acostumada com isso.

Ah, continuo fazendo parte do "ame-a ou a odeie". Aos que me amam, sinceramente, não sei o que vocês viram em mim. Aos que me odeiam, sinto muito, não consigo odiá-los (não dá, não consigo ter ódio de ninguém. Não, não sou Madre Teresa, é apenas uma questão de praticidade. Ódio dispende muita energia e, como sou preguiçosa, minha energia tem de ser devidamente canalizada, não posso me dar ao luxo de jogá-la fora).

O curioso disso tudo é que chega a ser divertido ver os ataques do outro lado da força. Já soube de gente que afirmou "em palco que ela pisa, eu não piso". Não entendia o motivo da minha, por assim dizer, passividade. Não fiz nada!!! Mas não fiz pelo tempo que iria desperdiçar praticando qualquer ato ou tendo qualquer tipo de pensamento (e por preguiça também). Até que um dia li uma frase numa revista que se encaixou perfeitamente ao meu perfil: "É preciso administrar o desprezo com parcimônia, devido ao grande número de necessitados" (troque a palavra 'desprezo' por 'pena'). É isso, tenho pena de quem cultiva o ódio, o rancor, o desejo de vingança, contra quem quer que seja, pois é puro desperdício. (O divertido da história e ver a desilusão dos meus "fãs" de plantão. Eles têm verdadeira síncope ao ver que eu não me importo.)

Outra coisa que as pessoas do meu passado me ensinaram foi a não fazer parte de joguinhos e complôs (serviço público tem muiiiiiiiiiiiiiiiiiito disso). Já vi gente dando rasteira em pessoas que, minutos antes, beijavam, abraçavam e juravam amor eterno. (Ei, eu também já passei por isso!!!) Há ainda os que se acham os tais, juram que têm sex appeal, e usam todo o seu charme (se é que vocês me entendem) para melhorar a sua vida profissional. Sou da opinião de quem não tem competência, não se estabelece. O fulano que deu a rasteira pode até se dar bem e ser, efetivamente, um bom profissional, mas o seu nome será sempre ligado à rasteira (idem para o que fez "hora-extra"). Resultado: sou considerada uma profissional competente e confiável (atestado de uma ex-chefe desconfiadíssima). O único detalhe (dela) é que sou muito "meninona" (ela quase caiu para trás quando disse que ia fazer 30). O "meninona" é porque faço piada de tudo e estou sempre rindo (muito por conta do meu nervosismo. Não choro, não entro em crise existencial, entro em crise de riso. Além de não aliar meus trajes, geralmente jeans, a minha competência. Sim, porque tem gente que acha que um terninho, um tailler são providos de neurônios extras. Pensam que suas belas roupas e acessórios vão torná-las inteligentes.)

Esse título de "meninona" é outra coisa que me garantiu risos. Toda vez (sem exceção) que alguém me contrata, tem um choque na hora da entrevista. É visível aquela expressão de "onde é que eu fui amarrar a minha égua". Antes que desistam, eu proponho um período de experiência: se gostar do serviço, ganho o contrato; caso contrário, não precisa nem pagar. Em todas as vezes (sem exceção) fui contratada. Igualmente engraçado foi ver a expressão das pessoas que falaram comigo por telefone e depois tiveram algum tipo de encontro profissional. Alguns não se continham e verbalizavam "Eu tinha uma outra idéia de você".

Esses aspectos que gosto em mim foram feitos a custa de muita desilusão, muita solidão. Como mecanismo de defesa à feiúra, desenvolvi o riso, a simpatia, a confiabilidade e (por que não) a inteligência. Era feia, mas também era divertida, amiga, culta (até certo ponto) e sabia ser discreta.

Os efeitos colaterais foram: não consigo (mesmo) me achar bonita, no máximo consigo chegar a simpática, e aquele ditado "se é bonito, é burro e chato". Não gosto de ser paquerada por cara bonito (eles pensam que estão lhe fazendo um favor!!! Não conseguem ir além do espelho.).

Outro mecanismo de defesa foi o de não tratar as pessoas feito lixo por conta de aparência. Meu "divisor de águas" chama-se caráter. Não importa se está vestindo Gucci, Armani ou Dolce & Gabanna, sempre analiso o caráter do(a) sujeito(a). Costumo ser muito tolerante, mas também tenho meus limites.

Eu sei que tenho bastantes coisas a melhorar, mas estou feliz comigo mesma e devo agradecer a todos que um dia me fizeram algum mal, me proporcionaram algum tipo de sofrimento, em decorrência de coisas ridículas (aparência, se encaixar ou não na turma, etc.). Meu sincero obrigada a todos vocês. E, óbvio, tenho de ser grata àquelas pessoas que foram além de minha feiúra e de minha reputação ("ela é gás nobre, não se mistura") e, mesmo que não façam parte de minha vida atual, serão sempre importantes para mim.

Ah, num mundo onde ter = ser, continuo me achando uma estranha no ninho.

Pronto, a viagem acabou!!!

Até a próxima!!!

Comentários

  1. Andrea, você não faz idéia de quanto me identifico com seu post.
    Passei por experiências muito similares e tive reações igualmente parecidas.
    Eu sempre me senti diferente (digo de vez em quando pro Luciano que até hoje não encontrei minha "turma") e sempre encarei as pessoas muuuuito além da aparência. Nesse quesito saí sempre ganhando pois, dentre alguns dos namorados feiosos (como sempre dizia minha mãe...) encontrei muito conteúdo e também muito amor.
    Quanto a ser "meninona", isso nem sempre foi uma vantagem. Na engenharia, o meio de gente mais travada emcionalmente que já conheci, isso acaba se tornando um pouco incômodo e mexe com a segurança de quem acredita que uma cara fechada faz com que você pareça mais eficiente ou mais inteligente. Meu chefe me disse um dia que quando eu entrava em sua sala sempre vinha uma pergunta difícil e que ele descobriu logo que eu era mais que um rostinho sorridente... Eu considerei tudo isso um elogio (ele era muuuito chato!) mas não deixei de ser sorridente e brincalhona para convencer ninguém de nada.
    Sou bastante feliz com o que sou, o fato de não dar a mínima pro julgamento alheio, sempre dizer o que penso e ser muito fiél ao que eu sinto me faz bastante feliz. Minha "sorridência" (sorry teacher!) parte do que sou e da forma que eu vivo.


    Beijão!!!


    Luciene

    ResponderExcluir
  2. Oi, Luciene!!!
    Minha ex-chefe tem uma coisa engraçada, ela confia no meu potencial, mas se incomoda com o fato de, digamos, eu não ter crescido. Até entendo o lado dela, pois como secretária de estado e por receber no seu gabinete uma série de políticos e outras "otoridades", ela tinha um certo temor que eu fosse inconveniente. Mas não dá, se eu fosse daquelas assessoras engessadas eu não seria a Andrea, e, muito provavelmente, ela não se afeiçoaria a mim (mesmo com as reservas dela). Eu, de certa forma, aliviava um pouco a pressão que ela recebia. Não só dela, mas de um monte de gente do gabinete. E eu gostava disso!!! Gosto de fazer bem às pessoas, nem que esse bem se resuma a arrancar um sorriso. Todo mundo que entrava na minha sala com algum problema, saia mais aliviada depois de ouvir meu arsenal de bobagens.
    Outro ponto: ir além das aparências é fundamental!!! Você ganha o respeito de todo o tipo de gente, é bem tratada e bem recebida em tudo quanto é lugar, pois as pessoas se sentem gente (sim, porque há aqueles que insistem em tratar os outros como bichos).
    Nesses quase 30 anos, dei uma reavaliada em alguns quesitos (sou menos estourada, menos ansiosa e mais conformada com as "surpresas" do destino), mas não me lembro de ter ido ou não com a cara de alguém porque ela estava ou não bem trajada.
    No momento estou aprendendo a dar ouvidos à intuição (a intuição e eu sempre tivemos muitas discussões e, como ela sempre estava certa - é engraçado, mas, quando ela acertava e eu não, sempre ouvia "Eu te falei", eu fazia um muxoxo). Não está sendo fácil, mas eu sei que consigo (ainda bem que minha intuição é bastante paciente).

    Bjus!!!

    Andrea

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