Família...

Outro post imenso. Não, não vou falar dos problemas familiares a que me referi no post anterior.

Minha mãe é a pessoa mais fantástica que já conheci em minha vida. Não há um dia em que eu não vire pra Deus e diga "Olha, valeu mesmo, se eu tivesse a chance de escolher alguém pra ser minha mãe, não poderia ter escolhido melhor que Você". Amo D. Dolores não porque ela é a mãe da Andrea, mas pela pessoa que ela é. Se não fosse minha mãe, eu a faria me adotar!!!

O coração de D. Dolores é gigantesco!!! Nunca conheci uma pessoa que pudesse guardar tanto amor ao próximo. Se a minha infância e adolescência foram difíceis, a dela foi muito pior (bota pior nisso). Minha mãe vem de uma época em que surras freqüentes eram sinal de rigidez. No entanto, ela nunca encostou um dedo em mim nem no meu irmão (e nós não fomos fáceis!!!). Seu jeito de educar foi peculiar (e, óbvio, tento imitá-la).

Um exemplo: eu e o André brigávamos todo santo dia (com direito a folga nos feriados e finais de semana). E tinha hora marcada!!! Começava lá pelas 5h da tarde e terminava 5h30. Meu irmão insistia em "treinar" seus golpes de judô em mim. Era uma pancadaria!!! (Ok, confesso: eu apelava para as panelas, cabos de vassoura, etc...). Quando não respeitávamos a folga e brigávamos na frente da minha mãe, ela nos sentava em separado no sofá, pegava o cinto, e dá-lhe cintada no sofá (daqueles de napa, imagine o barulho). Não ousávamos falar!!! Chorava muito, porque, como o cinto não batia em mim, jurava que ele estava apanhando sozinho (ele também chorava pela mesma coisa. Descobrimos isso - que chorávamos um pelo outro - depois de minha mãe contar a verdade sobre o sofá - pobre sofá!). Pode parecer estranho, mas isso aumentou a nossa união (minha e do André).

Como disse, o amor da minha mãe não se limita a um ou a dois, vai além, alcança todos. Ela tem vários sobrinhos e todos são, para ela, filhos. Não há distinção entre mim e o André, o Elias, a Raquel, a Adriana, a Aline, a Ester, a Rebecca, o Gabriel, o Eraldo, a Eliene, o Erivaldo, a Agnes. Meus primos não são apenas primos, são meus irmãos. Fomos criados assim, sem distinção.

Sabe o "ir além das aparências"? Foi D. Dolores que me ensinou. Nunca a vi destratando quem quer que seja. Onde quer que ela vá, as pessoas demonstram o quanto gostam dela. O legal é que isso respinga em mim :oD.

Não sou boa em chorar, tenho uma imensa dificuldade em conjugar esse verbo (acho que já disse isso), mas a minha mãe tem o dom de me fazer chorar. Explico: sabe aquelas pessoas que pouco dizem "eu te amo", mas com o olhar dizem tudo??? Minha mãe é assim. O amor que ela tem por mim é tão grande que basta olhar para aqueles imensos olhos verdes pra ver. Conhecemo-nos muito bem, não precisamos falar se estamos legais ou não, basta nos olharmos. Para se ter uma relação onde palavras são desnecessárias, é preciso ter uma enorme intimidade e muito amor.

Um fato: não chorei quando o Marco nasceu. Estava tão estressada na sala de cirurgia e tão revoltada por não poder segurá-lo (fiz cesárea, e, neste caso, nossos braços ficam presos) que só queria me livrar daquelas amarras, socar a enfermeira que me amarrou. Mas eis que vou para o quarto e vejo minha mãe (a mesma que dizia só querer saber de tudo depois do parto, pra não ficar nervosa). Não aguentei, chorei pra caramba, e ela também. Aquele olhar me tirou todo o estresse, toda a revolta, e me trouxe de volta a emoção de ter tido um filho. Depois fiquei sabendo que ela não resistiu, soube do dia e hora do parto e, antes de ir me ver, foi pedir a Deus para que desse tudo certo.

Apenas uma coisa me indignava nela. Ela sempre me conta quando alguém a sacaneia (dependendo da pessoa, antes de ela me falar, pede-me pra prometer não revidar por ela. Sempre aceito...), mas não faz nada!!! Toda vez, eu pergunto: "e aí, o que você fez" e sempre ouço "uai, nada! Deixa pra lá". E lá ia eu ficar revoltada por ela não ter revidado. Mas, como a vida é sábia, cá estou eu fazendo exatamente a mesma coisa. Agora, experimenta mexer num dos dodóis dela (ou seja, a família inteira)...

Falando em dodóis de D. Dolores, não posso deixar de citar D. Tereza (minha avó). Minha avó é sem palavras, sem comentários. Era, quando viva, uma de minhas melhores amigas, minha confidente e meu puxão de orelhas 24h por dia. Tínhamos brigas ferrenhas!!! O orgulho durava 5 minutos (aquele tempinho em que os bicões afloram), tempo o suficiente pra dizer, no tom mais duro que conseguíamos, "fiz café". Nunca pedimos desculpas uma a outra, nosso pedido de desculpas e o "olha, a gente brigou, mas eu continuo te amando do mesmo jeito" era o tal "fiz café". Sinto uma falta imensa de D. Tereza. Só a fiz chorar uma vez (de saudade, diga-se de passagem).

Minha avó não mimava seus netos como algumas avós mimam. Recebíamos severas broncas de D. Tereza. Os mimos de minha avó eram seus quitutes. Sempre fazia o prato e a sobremesa favoritos de seus netos. Como morávamos (eu, ela, minha mãe e meu irmão) na mesma casa, dá pra imaginar a quantidade de vezes que comi nhoque, sopa "levanta defunto", com direito a suco de maracujá e pudim de leite. Não virei uma baleia por milagre.

Ela, assim como minha mãe (a exceção de minha mãe era D. Tereza), não é muito de beijar, abraçar, etc. Eu, como era a neta mais grudenta (e pirracenta) sentava no colo dela (isso com 19, 20 anos) e promovia o ataque de beijos. Minha mãe não resistia e me acompanhava (ela era muito carinhosa com D. Tereza). Era divertido vê-la querer se levantar do sofá e não conseguir. Sempre caíamos na risada.

Quando minha avó morreu, fiz questão de vesti-la, mesmo estando grávida de cinco meses. Era meu "tchau, vó, até qualquer dia". Mas o bom é que, tempos depois, sonhei com D. Tereza. Um sonho engraçado. Estava indo pra casa (no caso, a casa dela) e a vi no portão. Pensei, "ué, a minha avó morreu, mas o que ela está fazendo ali???", continuei andando em sua direção (só não corri, porque estava com uma barriga imensa), ela notou e veio ao meu encontro para dizer "olha, você pode continuar me mandando beijos, viu?" e sumiu. Depois desse dia, sempre mando beijos para ela.

André. Meu irmão é uma pessoa fenomenal, maravilhosa. Nunca conheci ninguém que tenha o poder de refazer a vida, de se reconstruir, de se superar. Ele é incrível!!! Sabe um cara que todo mundo achava que ia ser um nada na vida??? Amei ver o André fazendo essas pessoas quebrarem a cara e isso é "culpa" de D. Dolores, ela nunca deixou de acreditar nos filhos e apoiá-los no que fosse preciso.

Quando éramos pequenos, sempre achei que ele me detestava. Não era verdade, ele nunca me detestou. Minha intuição me dizia "olha, ele te ama, só você que não enxerga" e eu não acreditava (minha relação com minha intuição é um pouco conturbada, mas isso é história para outro post). Mas um dia, acho que um dos dias que mais precisei de alguém, o André estava lá, mais presente até que D. Dolores.

Explico: era janeiro de 1986, tinha viajado com o meu tio Zezé e sua família para o casamento de uma prima em Mato Grosso. Na volta da viagem, sofremos um acidente de carro que matou a família do meu tio (tia Lena, Adriana, Aline e dois sobrinhos - por parte da esposa - Luciano e Cristiano). Ainda internada, meu irmão foi me visitar e ficou o tempo inteiro comigo. Teve o tato de não me contar das mortes (eu ainda não sabia). Minha mãe, coitada, teve de se desdobrar naquele hospital, pois eu, meu tio e a Raquel estávamos em quartos diferentes e todos nós fazíamos questão da presença dela. O André não, ele foi rapidamente visitar minha prima e meu tio e depois "se instalou" no meu quarto. Ele mal conseguia disfarçar o desespero de quase ter perdido a irmã, eu, para não constrangê-lo, fingi que não vi. O alívio dele ao me ver somente com o braço engessado foi tocante.

Meu pai. Amo meu pai, apesar de não concordar com determinadas escolhas que ele fez na vida. Respeito suas opções, mas não concordo. Sempre fui a "coisinha tão bonitinha do pai" (até enchi o saco do tanto que ouvir essa música). Era o orgulho dele. Dançamos muito ao som de Balão Mágico. Jogamos muita bola dentro de casa. Ele me ensinou a gostar de Abba. Hoje os papéis se inverteram, sou eu quem dá broncas nele (extensivo à família inteira) e o "deixo de castigo", por assim dizer. Nunca duvidei do seu amor por mim, nunca mesmo! Sei que ele me ama e sei que eu o amo muito e só saber isso me basta. Como diria a minha avó Santa (mãe de meu pai): eu sou a pessoa que ele mais ama no mundo (bem, pra uma mulher de 92 anos ter dito isso do nada, não deve ser mentira.).

Adriana. Adriana não foi só a minha prima, foi minha irmã. Foi (e é) a pessoa que eu mais amei na vida (calma!!! Amo muiiiiiiiiiito minha mãe e meu filho), apesar de passarmos poucos anos juntas (morreu no acidente que eu mencionei, tinha 11 anos). Era linda em todos os aspectos. Muito semelhante a minha mãe, seu amor era imenso, e também tínhamos aquela relação de olhares. Nesses quase 20 anos longe dela, nunca a esqueci. Sua ausência foi sentida por todos na família. No princípio me revoltava, mas depois agradeci a Deus por ter sido tão importante pra ela nesses 11 anos que passou por aqui. Éramos um grude só. Acho que da família inteira, eu tive o privilégio de ser sua melhor amiga. Não sei explicar, mas eu e a Adriana éramos uma só, mesmo sendo bastante diferentes. Sua vida me ensinou a doçura, sua morte me ensinou que o amor é eterno.

Tia Terezinha. Minha mãe 2. Tia Terezinha é uma pessoa que contraria a aparência. Parece frágil, mas é muito forte (igual a minha mãe). Criou praticamente sozinha 4 das criaturas mais gente boa do planeta (Elias, Eraldo, Erivaldo e Eliene). Mesmo morando em Uberlândia, ela continua se preocupando comigo. Só a vi perder as estribeiras uma vez na vida (ela estava coberta de razão, frise-se). A única coisa que eu sei que ela não gosta em mim, mas eu não consigo deixar de fazer, é quando dou bronca nos meninos (crianças de 18 a 25 anos). Tia, brigo (e brigava) com os meninos porque os amo muito. Eles são um pouco meus irmãos e muito meus filhos.

Tio Zezé. Esse é o único tio com quem um dia tive uma séria discussão (troque o "fiz café" por "dormiu bem?"). Meu tio é uma pessoa que intimida com o olhar, todos os sobrinhos eram anjinhos perto dele. Eu, pelo menos, tinha medo dele. Era bastante severo. Esse medo todo durou até que o meu sangue misturado (espanhol e italiano) ferveu. Brigamos feio, eu na defesa de alguém e ele no papel de acusador. Pequeno detalhe: dentro da casa dele. Depois daqueles famosos 5 minutos de bicão (durou um pouco mais, porque morávamos em casas afastadas. O bicão durou até a primeira visita dele), o medo se transformou em respeito mútuo. Adoro meu tio e meus primos. Se tem alguém na face da Terra que sabe fazer filhos bonitos é ele.

Chega de escrever por hoje...

Até a próxima

Ps.: Dri, onde quer que você esteja, feliz aniversário (dia 18/07). Te amo, viu?
Ps2.: Yeah, quase chorei escrevendo este post, mas não foi dessa vez.

Comentários

  1. Oi Andrea!
    Pois eu choro sim, e muito! To entrando no último trimestre de gravidez e este é o período das lágrimas pra mim...
    Fiquei com os olhos cheios de água com tanta ternura...
    Eu adoro demonstrações de carinho, sou sim muito "pegajosa", adoro abraçar, beijar, dizer que amo e adoro colo!
    Adorei quando li o título e, mais ainda quando vc disse que o post seria grande.
    Não liga não, sou boba assim mesmo...

    Beijão!!!


    Luciene

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  2. Luciene, não sei porque, mas eu tenho uma enorme dificuldade de chorar. Fico com aquele nó incômodo na garganta, mas nada de lágrimas. Adoraria ser manteiga derretida. Estou desabituada a chorar que me falta o ar quando eu me empolgo nas lágrimas.
    Amo minha família, com todos os seus defeitos e manias. Eu sou a chata, a que pega no pé, a que briga, a que dá a opinião sincera - doa a quem doer. O bom é que minha família também gosta muito de mim, com minhas manias e defeitos. Deus foi muito bom quando me instalou nesse núcleo. E foi magnânimo quando me deu o Marco Aurélio como filho. Um dia foi escrever um post inteirinho sobre ele, pois, assim como minha mãe, eu o amo mais pela pessoinha que ele é que por ser meu filho.

    Bjus!!!

    Andrea

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